
Sexta-feira depois das Cinzas
Para conseguir uma medição mais ou menos rigorosa da tensão arterial, tem de se fazer a média de várias medições efectuadas a intervalos regulares, ao longo de alguns dias. Recentemente, num check-up médico anual, descobri que há, frequentemente, fortes subidas e descidas, mesmo em três leituras consecutivas, com poucos minutos de intervalo. Foi interessante aprender, também, que é normal a tensão arterial ser mais alta de manhã. Pensaria que, depois duma boa noite de sono, poderia ser mais baixa, mas o ritmo circadiano do corpo activa-se na parte final do nosso sono – suponho que para nos empurrar para fora da cama assim que acordamos.
Tudo isto mostra que medir as coisas não é tão fácil como parece; e que há mistérios no universo do corpo humano que estão bem além da nossa compreensão. Tal como no cosmos, com as suas vastas áreas de energia negra e a sua misteriosa expansão, que tem lugar no âmbito do mesmo espaço visível. Chamamos-lhe negra porque não a conseguimos ver ou analisar. Do mesmo modo, falamos da “noite escura da alma” porque, como apontam os grandes místicos, ficamos encandeados pela luz do espírito. Evágrio dizia que um sinal de algum progresso na meditação era o de chegarmos a “ver a luz do (nosso) próprio espírito”. Talvez, nos padrões variáveis do nosso universo interior e exterior, a vejamos e interpretemos com escuridão. Não conseguimos olhar directamente para o Sol. Porém, como diz o salmo, “na luz de Deus, vemos a luz”. Precisamos de ter renunciado ao nosso poder separado de visão e à nossa compreensão, entregando-os ao divino, se quisermos ver as coisas tal como realmente são.
Quando estamos a compor uma fotografia, antes de carregar no disparador, aproximamos e afastamos a imagem com o zoom para obter a melhor imagem no que parece o melhor meio termo. O momento da decisão – “esta é a melhor” – é mais intuitivo do que baseado em medições técnicas. Acho que, ocasionalmente, tiro uma boa fotografia, mas, quando penso isso, é uma surpresa e, é claro, as outras pessoas podem não a ver como eu vejo.
A “mediana” é preferível à “média”. A média é o total dividido pelo número de parcelas. A mediana é o valor do meio, em relação ao qual metade dos números são maiores e metade é menor. Penso que compreendo o que isto significa e parece que nos liberta da tirania de pensar que a verdade pode ser simplesmente captada e medida. Tem de ser encontrada no meio. Por favor, digam-me se estiver enganado.
De qualquer modo, a intuição funciona melhor quando a mão esquerda não sabe o que a direita está fazendo. Jesus disse isto referindo-se a fazer “boas obras” sem cair na armadilha de as fazer pelo bom sentimento que isso nos dá. O centramento no outro, o altruísmo e a liberdade face ao apego são necessários para que a bondade prospere e para a proteger da possessividade do ego.
À medida que a coluna militar russa com 60 km serpenteia em direcção a Kiev, para montar cerco à capital, num acto primitivo de desumanidade, estas não serão ideias que muitas pessoas estarão a discutir lá. Mas, para nós, a uma distância segura, embora não insensível, talvez seja importante pensar como é que descobrimos e agarramos a verdade no centro da realidade. Quanto à Quaresma, manter-se no centro liberta sabedoria e intuição sobre o que é apropriado: quando jejuar e quando festejar, como Jesus diz no evangelho de hoje
“Porventura podem estar tristes os convidados para as núpcias enquanto o esposo está com eles? Porém, hão de vir dias em que lhes será tirado o esposo e, então, hão de jejuar.”
(Mateus 9:15)
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
Para conseguir uma medição mais ou menos rigorosa da tensão arterial, tem de se fazer a média de várias medições efectuadas a intervalos regulares, ao longo de alguns dias. Recentemente, num check-up médico anual, descobri que há, frequentemente, fortes subidas e descidas, mesmo em três leituras consecutivas, com poucos minutos de intervalo. Foi interessante aprender, também, que é normal a tensão arterial ser mais alta de manhã. Pensaria que, depois duma boa noite de sono, poderia ser mais baixa, mas o ritmo circadiano do corpo activa-se na parte final do nosso sono – suponho que para nos empurrar para fora da cama assim que acordamos.
Tudo isto mostra que medir as coisas não é tão fácil como parece; e que há mistérios no universo do corpo humano que estão bem além da nossa compreensão. Tal como no cosmos, com as suas vastas áreas de energia negra e a sua misteriosa expansão, que tem lugar no âmbito do mesmo espaço visível. Chamamos-lhe negra porque não a conseguimos ver ou analisar. Do mesmo modo, falamos da “noite escura da alma” porque, como apontam os grandes místicos, ficamos encandeados pela luz do espírito. Evágrio dizia que um sinal de algum progresso na meditação era o de chegarmos a “ver a luz do (nosso) próprio espírito”. Talvez, nos padrões variáveis do nosso universo interior e exterior, a vejamos e interpretemos com escuridão. Não conseguimos olhar directamente para o Sol. Porém, como diz o salmo, “na luz de Deus, vemos a luz”. Precisamos de ter renunciado ao nosso poder separado de visão e à nossa compreensão, entregando-os ao divino, se quisermos ver as coisas tal como realmente são.
Quando estamos a compor uma fotografia, antes de carregar no disparador, aproximamos e afastamos a imagem com o zoom para obter a melhor imagem no que parece o melhor meio termo. O momento da decisão – “esta é a melhor” – é mais intuitivo do que baseado em medições técnicas. Acho que, ocasionalmente, tiro uma boa fotografia, mas, quando penso isso, é uma surpresa e, é claro, as outras pessoas podem não a ver como eu vejo.
A “mediana” é preferível à “média”. A média é o total dividido pelo número de parcelas. A mediana é o valor do meio, em relação ao qual metade dos números são maiores e metade é menor. Penso que compreendo o que isto significa e parece que nos liberta da tirania de pensar que a verdade pode ser simplesmente captada e medida. Tem de ser encontrada no meio. Por favor, digam-me se estiver enganado.
De qualquer modo, a intuição funciona melhor quando a mão esquerda não sabe o que a direita está fazendo. Jesus disse isto referindo-se a fazer “boas obras” sem cair na armadilha de as fazer pelo bom sentimento que isso nos dá. O centramento no outro, o altruísmo e a liberdade face ao apego são necessários para que a bondade prospere e para a proteger da possessividade do ego.
À medida que a coluna militar russa com 60 km serpenteia em direcção a Kiev, para montar cerco à capital, num acto primitivo de desumanidade, estas não serão ideias que muitas pessoas estarão a discutir lá. Mas, para nós, a uma distância segura, embora não insensível, talvez seja importante pensar como é que descobrimos e agarramos a verdade no centro da realidade. Quanto à Quaresma, manter-se no centro liberta sabedoria e intuição sobre o que é apropriado: quando jejuar e quando festejar, como Jesus diz no evangelho de hoje
“Porventura podem estar tristes os convidados para as núpcias enquanto o esposo está com eles? Porém, hão de vir dias em que lhes será tirado o esposo e, então, hão de jejuar.”
(Mateus 9:15)
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
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