
Terça-feira da Segundo Semana
Como é que podemos fazer alguém mudar de ideias? Habitualmente, não vale a pena o esforço e apenas nos irá fazer ficar mais frustrados e zangados. Se for bem sucedido, poderá ser apenas um ajustamento superficial, não uma real metanoia.
Tocar o coração de alguém que não consegue mudar de ideias, porque o seu coração se tornou de pedra, é a melhor abordagem. Se falhar, podemos ficar tristes mas provavelmente não ficaremos enraivecidos. Quando o sentimento de fracasso passar, a esperança irá jorrar de novo e empurrar-nos mesmo contra o nosso pensamento racional, para tentar de novo, mesmo quando isso nos faz parecer ainda mais tolos do que antes.
Mas como é que tocamos o coração de um tirano, um psicopata ou um fanático? Isso nunca será conseguido por eles verem o sofrimento que estão a causar. Mas poderá ser conseguido ao surpreendê-los. Como disse ontem, é como a surpresa que acompanha cada manifestação de amor. Podemos tê-la imaginado ou ansiado por ela, mas jamais poderíamos estar preparados para ela. Este é um dos aspetos da pobreza em espírito ou do vazio que desenvolvemos na meditação: a capacidade de sermos surpreendidos, inocente e genuinamente, pela realidade.
Quando confrontamos um oponente com um coração fechado, precisamos de abrir mais o nosso próprio coração. Isto é muito mais do que uma emoção ou uma boa intenção. É abrirmo-nos a nós mesmos à sua rejeição e ridicularização. Não iremos parecer heroicos nem nobres, pelo menos a nós mesmos e às pessoas que nos rodeiam, nessa altura. No momento da confrontação, quando o oponente está à procura do próximo murro ou truque sujo que nós lhe vamos aplicar, em vez disso, nós acolhemos o sofrimento que dele recebemos. Ele irá infligir mais e mais, esperando que reajamos com ódio ou violência. Mas quanto mais sofremos, mais o nosso coração se abre. A única hipótese de abrir um coração fechado noutra pessoa é abrir o nosso próprio coração a ela.
Será prático? Quer dizer que os ucranianos deviam passar por cima sem se defender? Não creio. Significa que ao defenderem-se por causa do amor que têm pelo seu país, mas sem fecharem os seus corações no ódio pelos indivíduos que os magoam, estão a abrir os seus corações ainda mais. E ver um coração aberto no oponente surpreende-nos e pode tornar-se numa brecha no coração empedernido que não se consegue preencher e o muro de pedra que fecha o coração pode, simplesmente, começar a desmoronar-se.
Em termos da Quaresma, isto é avançar rapidamente para Sexta-feira Santa. Não é uma estratégia política ou militar, mas mística, que surge da fé profunda na bondade da natureza humana. É uma arma poderosa, eventualmente a única que não fica sem munições.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
Como é que podemos fazer alguém mudar de ideias? Habitualmente, não vale a pena o esforço e apenas nos irá fazer ficar mais frustrados e zangados. Se for bem sucedido, poderá ser apenas um ajustamento superficial, não uma real metanoia.
Tocar o coração de alguém que não consegue mudar de ideias, porque o seu coração se tornou de pedra, é a melhor abordagem. Se falhar, podemos ficar tristes mas provavelmente não ficaremos enraivecidos. Quando o sentimento de fracasso passar, a esperança irá jorrar de novo e empurrar-nos mesmo contra o nosso pensamento racional, para tentar de novo, mesmo quando isso nos faz parecer ainda mais tolos do que antes.
Mas como é que tocamos o coração de um tirano, um psicopata ou um fanático? Isso nunca será conseguido por eles verem o sofrimento que estão a causar. Mas poderá ser conseguido ao surpreendê-los. Como disse ontem, é como a surpresa que acompanha cada manifestação de amor. Podemos tê-la imaginado ou ansiado por ela, mas jamais poderíamos estar preparados para ela. Este é um dos aspetos da pobreza em espírito ou do vazio que desenvolvemos na meditação: a capacidade de sermos surpreendidos, inocente e genuinamente, pela realidade.
Quando confrontamos um oponente com um coração fechado, precisamos de abrir mais o nosso próprio coração. Isto é muito mais do que uma emoção ou uma boa intenção. É abrirmo-nos a nós mesmos à sua rejeição e ridicularização. Não iremos parecer heroicos nem nobres, pelo menos a nós mesmos e às pessoas que nos rodeiam, nessa altura. No momento da confrontação, quando o oponente está à procura do próximo murro ou truque sujo que nós lhe vamos aplicar, em vez disso, nós acolhemos o sofrimento que dele recebemos. Ele irá infligir mais e mais, esperando que reajamos com ódio ou violência. Mas quanto mais sofremos, mais o nosso coração se abre. A única hipótese de abrir um coração fechado noutra pessoa é abrir o nosso próprio coração a ela.
Será prático? Quer dizer que os ucranianos deviam passar por cima sem se defender? Não creio. Significa que ao defenderem-se por causa do amor que têm pelo seu país, mas sem fecharem os seus corações no ódio pelos indivíduos que os magoam, estão a abrir os seus corações ainda mais. E ver um coração aberto no oponente surpreende-nos e pode tornar-se numa brecha no coração empedernido que não se consegue preencher e o muro de pedra que fecha o coração pode, simplesmente, começar a desmoronar-se.
Em termos da Quaresma, isto é avançar rapidamente para Sexta-feira Santa. Não é uma estratégia política ou militar, mas mística, que surge da fé profunda na bondade da natureza humana. É uma arma poderosa, eventualmente a única que não fica sem munições.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
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