
Terceiro Domingo da Quaresma
Pode ser que dê fruto para o ano. Se não der, podes cortá-la. (Lucas 13:1-9)
Recentemente, estava a ouvir uma inspiradora senhora a falar sobre o poder e o género. Relembrou-nos que, quando um homem é forte a lidar com o poder, ele é designado como decidido ou as pessoas dizem que “ele sabe o que é preciso e trata disso”. Uma mulher que faça o mesmo será, muitas vezes, acusada de ser mandona. Por trás da desigualdade e da sub-representação das mulheres na maior parte da sociedade (excepto como parteiras e na educação primária), existe um preconceito, uma caricatura do poder masculino e feminino. Por trás da caricatura está a assunção de que o poder é a força usada sobre os outros: agir responsavelmente e liderar com eficácia requer uma força externa para fazer com que as pessoas façam alguma coisa.
A oradora tinha detido com sucesso muitos lugares de poder durante a sua carreira, tinha lidado com o preconceito e o bullying e tinha sido muitas vezes, a única mulher na sala dos decisores. A meditação também a tinha ajudado a ter consciência de outro tipo de poder usado não sobre, mas com os outros, uma energia que vem dum espaço interior pessoal, em vez de vir das forças políticas que controlam os relacionamentos externos. Este poder mais interior, na sua experiência, liga-nos com uma outra, e mais alta fonte de poder, para além da individual. Enquanto ela descrevia isto, lembrei-me de Jesus a dizer a Pilatos: “não terias nenhum poder sobre Mim se não te fosse dado do Alto”.
Ver o poder como força é um entendimento não criativo do poder porque nos bloqueia numa visão egotista da realidade. Faltando-lhe a criatividade da ligação mais alta, ele torna-se destrutivo. Usa um modelo característico do lado esquerdo do cérebro sobre como o poder deve ser acumulado e armazenado. Ignora a natureza fluida do tempo e tenta segurá-lo e possuí-lo, levando ao auto-engano. A realidade está em contínuo fluir. O verdadeiro poder também flui a partir duma fonte além do individual, que combina os aspetos masculino e feminino do poder: força e gentileza, decisão e paciência.
A natureza fluida do poder une a impermanência da realidade com a liberdade de saber que “aqui não temos morada permanente”. O que fomos acumulando poderá evaporar-se num instante. Podemos ser descarrilados a qualquer instante por acidente, doença ou morte. O tempo voa mas cada segundo da existência contém a verdade do início do Universo.
A meditação é o melhor professor quanto à natureza do poder e como o usar. No deserto, Jesus foi tentado a usar o seu já profundo conhecimento e relacionamento com a realidade para os seus próprios propósitos. Ele sabia como as pessoas poderosas podem ser mal interpretadas por aqueles que sentem a sua influência e que o poder percebido enquanto força conduz ao abuso. Os líderes autocráticos caem nesta armadilha de ligar as multidões e o poder.
O poder de abater uma figueira improdutiva é de um tipo. A sabedoria de lhe dar mais tempo e de usar o fracasso como um adubo para nutrir é o outro tipo. Pode parecer uma abdicação, mas é a única maneira saudável de o usar.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
Pode ser que dê fruto para o ano. Se não der, podes cortá-la. (Lucas 13:1-9)
Recentemente, estava a ouvir uma inspiradora senhora a falar sobre o poder e o género. Relembrou-nos que, quando um homem é forte a lidar com o poder, ele é designado como decidido ou as pessoas dizem que “ele sabe o que é preciso e trata disso”. Uma mulher que faça o mesmo será, muitas vezes, acusada de ser mandona. Por trás da desigualdade e da sub-representação das mulheres na maior parte da sociedade (excepto como parteiras e na educação primária), existe um preconceito, uma caricatura do poder masculino e feminino. Por trás da caricatura está a assunção de que o poder é a força usada sobre os outros: agir responsavelmente e liderar com eficácia requer uma força externa para fazer com que as pessoas façam alguma coisa.
A oradora tinha detido com sucesso muitos lugares de poder durante a sua carreira, tinha lidado com o preconceito e o bullying e tinha sido muitas vezes, a única mulher na sala dos decisores. A meditação também a tinha ajudado a ter consciência de outro tipo de poder usado não sobre, mas com os outros, uma energia que vem dum espaço interior pessoal, em vez de vir das forças políticas que controlam os relacionamentos externos. Este poder mais interior, na sua experiência, liga-nos com uma outra, e mais alta fonte de poder, para além da individual. Enquanto ela descrevia isto, lembrei-me de Jesus a dizer a Pilatos: “não terias nenhum poder sobre Mim se não te fosse dado do Alto”.
Ver o poder como força é um entendimento não criativo do poder porque nos bloqueia numa visão egotista da realidade. Faltando-lhe a criatividade da ligação mais alta, ele torna-se destrutivo. Usa um modelo característico do lado esquerdo do cérebro sobre como o poder deve ser acumulado e armazenado. Ignora a natureza fluida do tempo e tenta segurá-lo e possuí-lo, levando ao auto-engano. A realidade está em contínuo fluir. O verdadeiro poder também flui a partir duma fonte além do individual, que combina os aspetos masculino e feminino do poder: força e gentileza, decisão e paciência.
A natureza fluida do poder une a impermanência da realidade com a liberdade de saber que “aqui não temos morada permanente”. O que fomos acumulando poderá evaporar-se num instante. Podemos ser descarrilados a qualquer instante por acidente, doença ou morte. O tempo voa mas cada segundo da existência contém a verdade do início do Universo.
A meditação é o melhor professor quanto à natureza do poder e como o usar. No deserto, Jesus foi tentado a usar o seu já profundo conhecimento e relacionamento com a realidade para os seus próprios propósitos. Ele sabia como as pessoas poderosas podem ser mal interpretadas por aqueles que sentem a sua influência e que o poder percebido enquanto força conduz ao abuso. Os líderes autocráticos caem nesta armadilha de ligar as multidões e o poder.
O poder de abater uma figueira improdutiva é de um tipo. A sabedoria de lhe dar mais tempo e de usar o fracasso como um adubo para nutrir é o outro tipo. Pode parecer uma abdicação, mas é a única maneira saudável de o usar.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
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