Retiro com o Father Laurence Freeman / Fev. 2009
Testemunho de Eunice
Retiro com o Father Laurence Freeman / Fev. 2009
A principal vantagem que retirei foi a minha tranquilidade.
Foi o único retiro em que estive presente e participei até hoje.
Foi um retiro de silêncio. Após a primeira refeição, cessaram as conversas pessoais e os cumprimentos entre os participantes. Para mim, o silêncio foi positivo porque, muito embora as conversas possam ser agradáveis, o facto é que perdemos a concentração e a abertura para estarmos sós com Deus.
A meditação consiste em estarmos juntos, em silêncio, e em cada um de nós pronunciar para si mesmo uma palavra sagrada, neste caso, MARANATA, que é uma palavra aramaica, a língua que Jesus falava, e que significa “VEM, SENHOR!”.
Não podemos deixar de repetir a palavra MARANATA, muito embora nos surjam pensamentos, ideias, em que não nos detemos. A princípio, surgiu muito “barulho”: As tais conversas do dia a dia, os cumprimentos, os afazeres diários…Como devia repetir constantemente a palavra MARANATA, não lhes dava continuação.
Esta a parte técnica. Deixei de estar obcecada pelas faltas do passado, como se não tivesse acreditado na misericórdia de Deus, como se tivesse de sofrer um castigo pelas minhas faltas.
Sofri uma depressão há muitos anos. No meu ambiente, apontavam-me as faltas, para destruir: “No dia tal, fizeste esta falta e, no outro dia, aquela outra falta.”.
Deter-me no passado era também uma forma de prevenir que as minhas faltas se voltassem a repetir.
Foi uma grande graça de Cristo, a minha paz interior.
Segundo os conselhos de Frei Lawrence, havia que viver o presente, não pensar nas tarefas de logo à noite ou de amanhã, nem no passado.
Foi também importante para mim que Frei Lawrence falasse no respeito ontológico. São palavras minhas. Interpretei as palavras de Frei Lawrence no sentido do respeito que devem merecer, não só os nossos direitos, mas também os dons, a personalidade de cada um, a pessoa em todo o seu conjunto.
Outra coisa que também ouvi, e que a mim pessoalmente me fez bem, foi que o pecado é sempre colectivo. Sem querer iludir as responsabilidades de cada um, de facto, há desordem na terra desde sempre e o pecado é desordem.
Bendito seja Deus para sempre
Eunice Regina Silva
A principal vantagem que retirei foi a minha tranquilidade.
Foi o único retiro em que estive presente e participei até hoje.
Foi um retiro de silêncio. Após a primeira refeição, cessaram as conversas pessoais e os cumprimentos entre os participantes. Para mim, o silêncio foi positivo porque, muito embora as conversas possam ser agradáveis, o facto é que perdemos a concentração e a abertura para estarmos sós com Deus.
A meditação consiste em estarmos juntos, em silêncio, e em cada um de nós pronunciar para si mesmo uma palavra sagrada, neste caso, MARANATA, que é uma palavra aramaica, a língua que Jesus falava, e que significa “VEM, SENHOR!”.
Não podemos deixar de repetir a palavra MARANATA, muito embora nos surjam pensamentos, ideias, em que não nos detemos. A princípio, surgiu muito “barulho”: As tais conversas do dia a dia, os cumprimentos, os afazeres diários…Como devia repetir constantemente a palavra MARANATA, não lhes dava continuação.
Esta a parte técnica. Deixei de estar obcecada pelas faltas do passado, como se não tivesse acreditado na misericórdia de Deus, como se tivesse de sofrer um castigo pelas minhas faltas.
Sofri uma depressão há muitos anos. No meu ambiente, apontavam-me as faltas, para destruir: “No dia tal, fizeste esta falta e, no outro dia, aquela outra falta.”.
Deter-me no passado era também uma forma de prevenir que as minhas faltas se voltassem a repetir.
Foi uma grande graça de Cristo, a minha paz interior.
Segundo os conselhos de Frei Lawrence, havia que viver o presente, não pensar nas tarefas de logo à noite ou de amanhã, nem no passado.
Foi também importante para mim que Frei Lawrence falasse no respeito ontológico. São palavras minhas. Interpretei as palavras de Frei Lawrence no sentido do respeito que devem merecer, não só os nossos direitos, mas também os dons, a personalidade de cada um, a pessoa em todo o seu conjunto.
Outra coisa que também ouvi, e que a mim pessoalmente me fez bem, foi que o pecado é sempre colectivo. Sem querer iludir as responsabilidades de cada um, de facto, há desordem na terra desde sempre e o pecado é desordem.
Bendito seja Deus para sempre
Eunice Regina Silva
Testemunho de Cassilda
Retiro com o Father Laurence Freeman / Fev. 2009
"Inicialmente pensei neste retiro, como mais uma experiência que vinha procurando para meu bem estar através da quietude do momento. E também mais uma vez vivenciei e adquiri essa paz, que só o silêncio pode trazer.
E embora, todas estas experiências se repetissem, na verdade trouxeram algo de muito novo e o qual eu fui experienciando, à medida que escutava os ensinamentos de F. Laurence.
Fui acreditando e aceitando que estar ali, era a vontade do Pai, pelo que ouvia e pelo que sentia estando entre irmãos. E foi estando eu agora em comum com a minha Igreja, que constatei que de facto não se tratava apenas de mais um encontro de reconhecimento de filosofias universais, mas algo que eu sentia de muito mais verdadeiro, para mim e que fui reconhecendo à medida que escutava.
E assim vivenciei, que acreditando que foi Deus em Jesus que ali me tinha colocado, tal tinha sido o suficiente para me sentir novamente a filha de meu Pai. Do Pai que sei e que acredito, que me gerou pelo seu amor, na dádiva da sua palavra.
E partilho com os que agora lêm, que senti então de novo e pela primeira vez, a graça de sentir vivamente Jesus no nosso meio, ali nos momentos em que nos encontravamos juntos e orando. Só o silêncio e o reconhecimento da palavra proferida, me fizeram novamente sentir eu mesma, para sentir que Ele está bem vivo no meio de nós.
Aceitando mais uma vez a mudança em que Deus me envolveu, deixei-me amar por Ele e fiz o necessário na vida prática, estar num retiro e escutá-lo por F. Laurence, sentindo-o na palavra e em cada um dos presentes e no meio de todos.
E assim obtive uma das maiores Graças da minha Vida, Sentir Jesus Vivo
Aprendendo de forma real que a Santidade é um processo vivencial de aceitação de toda a mudança necessária e contínua de quem quer entrar no caminho, de volta à casa do Pai.
Valeu aprender a vivenciar que podemos ser testemunhas vivas, trabalhando neste terreno
Grata estou às minhas irmãs e a F. Laurence, que trabalharam mais arduamente para essa lavoura, e para que este encontro se realizasse,
E sempre a nosso Pai, que nos escuta e que sempre nos recebe, de volta"
Cassilda Dias
"Inicialmente pensei neste retiro, como mais uma experiência que vinha procurando para meu bem estar através da quietude do momento. E também mais uma vez vivenciei e adquiri essa paz, que só o silêncio pode trazer.
E embora, todas estas experiências se repetissem, na verdade trouxeram algo de muito novo e o qual eu fui experienciando, à medida que escutava os ensinamentos de F. Laurence.
Fui acreditando e aceitando que estar ali, era a vontade do Pai, pelo que ouvia e pelo que sentia estando entre irmãos. E foi estando eu agora em comum com a minha Igreja, que constatei que de facto não se tratava apenas de mais um encontro de reconhecimento de filosofias universais, mas algo que eu sentia de muito mais verdadeiro, para mim e que fui reconhecendo à medida que escutava.
E assim vivenciei, que acreditando que foi Deus em Jesus que ali me tinha colocado, tal tinha sido o suficiente para me sentir novamente a filha de meu Pai. Do Pai que sei e que acredito, que me gerou pelo seu amor, na dádiva da sua palavra.
E partilho com os que agora lêm, que senti então de novo e pela primeira vez, a graça de sentir vivamente Jesus no nosso meio, ali nos momentos em que nos encontravamos juntos e orando. Só o silêncio e o reconhecimento da palavra proferida, me fizeram novamente sentir eu mesma, para sentir que Ele está bem vivo no meio de nós.
Aceitando mais uma vez a mudança em que Deus me envolveu, deixei-me amar por Ele e fiz o necessário na vida prática, estar num retiro e escutá-lo por F. Laurence, sentindo-o na palavra e em cada um dos presentes e no meio de todos.
E assim obtive uma das maiores Graças da minha Vida, Sentir Jesus Vivo
Aprendendo de forma real que a Santidade é um processo vivencial de aceitação de toda a mudança necessária e contínua de quem quer entrar no caminho, de volta à casa do Pai.
Valeu aprender a vivenciar que podemos ser testemunhas vivas, trabalhando neste terreno
Grata estou às minhas irmãs e a F. Laurence, que trabalharam mais arduamente para essa lavoura, e para que este encontro se realizasse,
E sempre a nosso Pai, que nos escuta e que sempre nos recebe, de volta"
Cassilda Dias
Testemunho de M.A. Ribeiro
Retiro com o Father Laurence Freeman / Fev. 2009
1. O retiro com Fr. Laurence Freeman foi uma oportunidade de tocar mais de perto a experiência que dá sentido à vida. Uma viagem através de um conjunto de encontros de Meditação e de conferências subordinadas ao tema: Santidade – que sentido hoje?
As palavras por ele proferidas e com o tom e o timbre com que o fez, têm (tempo presente) o condão de acertar em cheio no coração.
A isso, penso, se devem as inúmeras pessoas que, de forma discreta mas visível, experienciaram verdadeira catarses.
2. Mesmo correndo o risco de as minhas palavras soarem falsas por não ser detentora de uma experiência profunda sobre o que escrevo e apesar das deficiências da minha captação, sinto como irreprimível a necessidade de partilha de alguns aspectos que, seguramente de forma redutora, seleccionei. E seleccionei-os por me parecer que apontam numa direcção e num sentido que podemos seguir e trabalhar. Por isso, os deixo aqui em breve síntese.
3. Um desses aspectos dos ensinamentos que nos remete para uma interioridade mais profunda – não apenas no plano da reflexão, mas para além dela – é o tema de “perder e encontrar”. Trata-se de um tema que se prende com o âmago do próprio Evangelho.
A própria vida de Cristo é, ela mesma, uma parábola sobre como aceitar perder a “vida” que temos, a meio-gás, para encontrarmos uma vida mais intensa e plena, uma vida com mais sentido e horizonte.
Apesar de dois mil anos volvidos, o que continuamos a temer, acima de qualquer outra coisa, é perder o que temos, sobretudo perder a vida, achamos nós. Nesse sentido, qualquer perda que experienciamos é um lembrete da morte. Isso justifica que sintamos tanta alegria quando reencontramos uma coisa perdida, à semelhança do pastor de 100 ovelhas que reencontrou a única que tinha perdido; da mulher que achou uma moeda que perdera e do reencontro do filho pródigo por seu pai.
Contudo, diz Fr. Laurence, não é a dor – nem o será também a morte – a causa do sofrimento, mas o apego à forma. Se perdermos uma pessoa, com o tempo, aprende-se a aceitar a perda. Talvez não nos habituemos totalmente a ela. O sentido da perda está lá, mas a dor diminui. A intensidade da perda muda e, aí, a dor torna-se um espaço aberto. Este espaço aberto, que dantes era preenchido pela forma antiga que perdemos, é encontrado sob uma forma nova. Neste espaço aberto, há uma alegria nova e um maravilhamento pode surgir. No caso de termos perdido uma pessoa, descobrimos que a essência está presente. Percebemos que a causa da dor não era a perda mas o apego à forma. É por isso que perder e encontrar são tão importantes no caminho da santidade.
4. Com a Meditação entramos no coração do paradoxo de qualquer crescimento humano: perder e encontrar fazem parte da mesma experiência, tal como morrer e ressuscitar.
A santidade é o processo de crescimento pelo qual vamos dentro do paradoxo da realidade e encontramos a santidade de Deus.
Não é uma fuga, é uma maneira de viver comprometidamente.
“Deus é o único santo e a nossa santidade é a partilha da vida divina”.
5.1. Há uma ideia de santidade em função de cada época. Na época em que vivemos é necessária essa nova ideia de santidade, em função das especiais condições do mundo moderno.
5.2.1.Há uma mudança na consciência e na cultura do mundo moderno influenciada por uma consciência universal. Portanto, a nova ideia de santidade tem de expressar essa consciência universal.
5.2.2. Entre os ícones que reflectem essa consciência universal, conta-se a fotografia da terra a partir da lua, perante cuja imagem se torna patente a beleza, a fragilidade, mas também a interdependência. Por isso é que a crise do mundo em que vivemos, num contexto global, proporciona o desafio de uma abordagem coordenada que reflicta essa consciência de interdependência global. Desse modo, a crise, de ameaçadora transmuta-se em janela para novas oportunidades.
5.2.3. Outro dos ícones dessa nova consciência pode ser visto numa fotografia tirada em Assis, em que o Papa João Paulo II aparece com convidados de outras confissões religiosas, fotografia que está associada à seguinte frase: “estamos aqui para rezar juntos porque a oração é maior do que as nossas diferenças”.
5.2.4. A humanidade está de facto a desenvolver uma nova consciência e, às vezes, depois de uma crise, conhecemo-nos de um modo diferente. Um auto-conhecimento mais profundo muda-nos: medos ou preconceitos podem desaparecer; os desejos e a percepção das coisas comuns pode mudar.
5.3. A consciência moderna é também moldada por uma outra circunstância: a relação com o tempo: o stress afecta todos os povos.
Um tempo que deixou de ter dias santos e que se secularizou plenamente, o que, todavia, não significa que a religião tenha sido rejeitada.
5.4. Outra circunstância que condiciona a consciência moderna é a ansiedade das escolhas.
A escolha é um “valor” associado à liberdade.
Algum grau de escolha é necessário. Mas que escolha: liberdade de consumo ou liberdade de escolher a nível das experiências significativas?
5.5. Outro dos aspectos que formam a consciência moderna é a ideia do “eu”.
Temos consciência do inconsciente, temos consciência de que o ser é mais profundo. Quem sou eu?
O nosso self é muito mais sem raízes do que o dos nossos avós.
6. Perante estes factores que formam a consciência dos dias de hoje, importa dar uma resposta que vá ao encontro do mundo e não retirarmo-nos para uma nostalgia religiosa.
O modo como rezamos e a profundidade da nossa oração irão reflectir a nossa actuação e ter nela reflexo.
7.1. A Meditação expressa um equilíbrio entre a nossa parte activa e a contemplativa, um equilíbrio que garante que não colapsamos perante o stress. Além disso, permite-nos transcender um eu auto-referencial e avançar para a dimensão relacional. Para isso, é decisiva a vivência em comunidade. Comunidade que fará tanto mais sentido quanto maior for a necessidade que temos de um novo enraizamento. Por isso, também meditamos em comunidade. E a meditação também, ela própria, cria comunidade.
7.2. A Meditação é o treino que nos permite perceber e agir na direcção do nosso caminho. O treino para não nos distrairmos e para nos tornarmos mais produtivos.
7.3. Na Meditação aceitamos a Dádiva. A Dádiva é um processo triangular, cujo vértice superior é a própria Dádiva e nos vértices da base temos o Doador e o Receptor. Ou seja, o Pai dá-se ao Filho; o Filho retribui com a Dádiva, o amor, e o acto de dar é o Espírito Santo.
Na Meditação, ao aceitarmos a Dádiva, somos conduzidos ao conhecimento do Doador.
7.4. Reconhecemo-nos como receptáculos da Dádiva e depois podemos devolver o que recebemos.
7.5. Qual é a Dádiva? É a Dádiva do ser, da essência do amor. Quando amamos, doamo-nos e só será doação se for incondicional. Quando recebemos a Dádiva, recebemos o poder de nos doarmos. O desafio é perseverar mesmo quando o ego acha que está a falhar.
8. Se algum leitor se sentir tocado e impelido a seguir o rasto, então, sem dúvida alguma, terá valido duplamente a pena este meu testemunho, em correspondência com a interpelação que me foi feita.
Lisboa, 31 de Maio de 2009
Maria Amélia Alves Ribeiro
1. O retiro com Fr. Laurence Freeman foi uma oportunidade de tocar mais de perto a experiência que dá sentido à vida. Uma viagem através de um conjunto de encontros de Meditação e de conferências subordinadas ao tema: Santidade – que sentido hoje?
As palavras por ele proferidas e com o tom e o timbre com que o fez, têm (tempo presente) o condão de acertar em cheio no coração.
A isso, penso, se devem as inúmeras pessoas que, de forma discreta mas visível, experienciaram verdadeira catarses.
2. Mesmo correndo o risco de as minhas palavras soarem falsas por não ser detentora de uma experiência profunda sobre o que escrevo e apesar das deficiências da minha captação, sinto como irreprimível a necessidade de partilha de alguns aspectos que, seguramente de forma redutora, seleccionei. E seleccionei-os por me parecer que apontam numa direcção e num sentido que podemos seguir e trabalhar. Por isso, os deixo aqui em breve síntese.
3. Um desses aspectos dos ensinamentos que nos remete para uma interioridade mais profunda – não apenas no plano da reflexão, mas para além dela – é o tema de “perder e encontrar”. Trata-se de um tema que se prende com o âmago do próprio Evangelho.
A própria vida de Cristo é, ela mesma, uma parábola sobre como aceitar perder a “vida” que temos, a meio-gás, para encontrarmos uma vida mais intensa e plena, uma vida com mais sentido e horizonte.
Apesar de dois mil anos volvidos, o que continuamos a temer, acima de qualquer outra coisa, é perder o que temos, sobretudo perder a vida, achamos nós. Nesse sentido, qualquer perda que experienciamos é um lembrete da morte. Isso justifica que sintamos tanta alegria quando reencontramos uma coisa perdida, à semelhança do pastor de 100 ovelhas que reencontrou a única que tinha perdido; da mulher que achou uma moeda que perdera e do reencontro do filho pródigo por seu pai.
Contudo, diz Fr. Laurence, não é a dor – nem o será também a morte – a causa do sofrimento, mas o apego à forma. Se perdermos uma pessoa, com o tempo, aprende-se a aceitar a perda. Talvez não nos habituemos totalmente a ela. O sentido da perda está lá, mas a dor diminui. A intensidade da perda muda e, aí, a dor torna-se um espaço aberto. Este espaço aberto, que dantes era preenchido pela forma antiga que perdemos, é encontrado sob uma forma nova. Neste espaço aberto, há uma alegria nova e um maravilhamento pode surgir. No caso de termos perdido uma pessoa, descobrimos que a essência está presente. Percebemos que a causa da dor não era a perda mas o apego à forma. É por isso que perder e encontrar são tão importantes no caminho da santidade.
4. Com a Meditação entramos no coração do paradoxo de qualquer crescimento humano: perder e encontrar fazem parte da mesma experiência, tal como morrer e ressuscitar.
A santidade é o processo de crescimento pelo qual vamos dentro do paradoxo da realidade e encontramos a santidade de Deus.
Não é uma fuga, é uma maneira de viver comprometidamente.
“Deus é o único santo e a nossa santidade é a partilha da vida divina”.
5.1. Há uma ideia de santidade em função de cada época. Na época em que vivemos é necessária essa nova ideia de santidade, em função das especiais condições do mundo moderno.
5.2.1.Há uma mudança na consciência e na cultura do mundo moderno influenciada por uma consciência universal. Portanto, a nova ideia de santidade tem de expressar essa consciência universal.
5.2.2. Entre os ícones que reflectem essa consciência universal, conta-se a fotografia da terra a partir da lua, perante cuja imagem se torna patente a beleza, a fragilidade, mas também a interdependência. Por isso é que a crise do mundo em que vivemos, num contexto global, proporciona o desafio de uma abordagem coordenada que reflicta essa consciência de interdependência global. Desse modo, a crise, de ameaçadora transmuta-se em janela para novas oportunidades.
5.2.3. Outro dos ícones dessa nova consciência pode ser visto numa fotografia tirada em Assis, em que o Papa João Paulo II aparece com convidados de outras confissões religiosas, fotografia que está associada à seguinte frase: “estamos aqui para rezar juntos porque a oração é maior do que as nossas diferenças”.
5.2.4. A humanidade está de facto a desenvolver uma nova consciência e, às vezes, depois de uma crise, conhecemo-nos de um modo diferente. Um auto-conhecimento mais profundo muda-nos: medos ou preconceitos podem desaparecer; os desejos e a percepção das coisas comuns pode mudar.
5.3. A consciência moderna é também moldada por uma outra circunstância: a relação com o tempo: o stress afecta todos os povos.
Um tempo que deixou de ter dias santos e que se secularizou plenamente, o que, todavia, não significa que a religião tenha sido rejeitada.
5.4. Outra circunstância que condiciona a consciência moderna é a ansiedade das escolhas.
A escolha é um “valor” associado à liberdade.
Algum grau de escolha é necessário. Mas que escolha: liberdade de consumo ou liberdade de escolher a nível das experiências significativas?
5.5. Outro dos aspectos que formam a consciência moderna é a ideia do “eu”.
Temos consciência do inconsciente, temos consciência de que o ser é mais profundo. Quem sou eu?
O nosso self é muito mais sem raízes do que o dos nossos avós.
6. Perante estes factores que formam a consciência dos dias de hoje, importa dar uma resposta que vá ao encontro do mundo e não retirarmo-nos para uma nostalgia religiosa.
O modo como rezamos e a profundidade da nossa oração irão reflectir a nossa actuação e ter nela reflexo.
7.1. A Meditação expressa um equilíbrio entre a nossa parte activa e a contemplativa, um equilíbrio que garante que não colapsamos perante o stress. Além disso, permite-nos transcender um eu auto-referencial e avançar para a dimensão relacional. Para isso, é decisiva a vivência em comunidade. Comunidade que fará tanto mais sentido quanto maior for a necessidade que temos de um novo enraizamento. Por isso, também meditamos em comunidade. E a meditação também, ela própria, cria comunidade.
7.2. A Meditação é o treino que nos permite perceber e agir na direcção do nosso caminho. O treino para não nos distrairmos e para nos tornarmos mais produtivos.
7.3. Na Meditação aceitamos a Dádiva. A Dádiva é um processo triangular, cujo vértice superior é a própria Dádiva e nos vértices da base temos o Doador e o Receptor. Ou seja, o Pai dá-se ao Filho; o Filho retribui com a Dádiva, o amor, e o acto de dar é o Espírito Santo.
Na Meditação, ao aceitarmos a Dádiva, somos conduzidos ao conhecimento do Doador.
7.4. Reconhecemo-nos como receptáculos da Dádiva e depois podemos devolver o que recebemos.
7.5. Qual é a Dádiva? É a Dádiva do ser, da essência do amor. Quando amamos, doamo-nos e só será doação se for incondicional. Quando recebemos a Dádiva, recebemos o poder de nos doarmos. O desafio é perseverar mesmo quando o ego acha que está a falhar.
8. Se algum leitor se sentir tocado e impelido a seguir o rasto, então, sem dúvida alguma, terá valido duplamente a pena este meu testemunho, em correspondência com a interpelação que me foi feita.
Lisboa, 31 de Maio de 2009
Maria Amélia Alves Ribeiro
Testemunho de Rui Souto
Retiro com o Father Laurence Freeman / Fev. 2009
Foi um fim-de-semana intenso, de reflexão, de vivência do silêncio que comunica e frutifica tanto… A organização imaculada e as condições bastante boas do espaço contribuíram, ainda mais, para a profunda paz e densidade espiritual por todos vivida.
Central foi a prática da meditação e o ensinamento de Fr.Laurence, mas não posso deixar de mencionar a profunda impressão que me deixou a sua personalidade.
Todas as suas palestras evidenciaram uma genuína fé, uma cultura e uma competência pedagógica notáveis. Um pouco inesperada, para mim, talvez pela sua origem britânica, foi a sua evidente abertura e curiosidade pela realidade tão diversa do Mundo, a forma respeitosa e reverente como se referiu às diversas culturas que tem visitado. Muito inspirador foi o nítido sentido de missão que norteia a sua vida de “andarilho”, a todos querendo escutar e estimular, sempre disposto a mais uns milhares de quilómetros, para proporcionar a experiência de “Deus no nosso íntimo” em mais um canto recôndito deste planeta, ou para rever e reconfortar um amigo. A sua empatia e capacidade de gerar confiança nos outros e o seu fino tacto diplomático foram bem evidentes na reflexão que partilhou com todos, durante a Mesa Redonda Inter-religiosa final.
Mas, acima de tudo, comoveu-me a forma delicada, reverencial, profundamente espiritual e plena de espírito de comunidade com que celebrou connosco a Eucaristia Contemplativa de sábado à noite, revelando a sua profunda vocação sacerdotal. Guardo este como o momento mais emocionante destes abençoados 3 dias.
Rui Souto
Foi um fim-de-semana intenso, de reflexão, de vivência do silêncio que comunica e frutifica tanto… A organização imaculada e as condições bastante boas do espaço contribuíram, ainda mais, para a profunda paz e densidade espiritual por todos vivida.
Central foi a prática da meditação e o ensinamento de Fr.Laurence, mas não posso deixar de mencionar a profunda impressão que me deixou a sua personalidade.
Todas as suas palestras evidenciaram uma genuína fé, uma cultura e uma competência pedagógica notáveis. Um pouco inesperada, para mim, talvez pela sua origem britânica, foi a sua evidente abertura e curiosidade pela realidade tão diversa do Mundo, a forma respeitosa e reverente como se referiu às diversas culturas que tem visitado. Muito inspirador foi o nítido sentido de missão que norteia a sua vida de “andarilho”, a todos querendo escutar e estimular, sempre disposto a mais uns milhares de quilómetros, para proporcionar a experiência de “Deus no nosso íntimo” em mais um canto recôndito deste planeta, ou para rever e reconfortar um amigo. A sua empatia e capacidade de gerar confiança nos outros e o seu fino tacto diplomático foram bem evidentes na reflexão que partilhou com todos, durante a Mesa Redonda Inter-religiosa final.
Mas, acima de tudo, comoveu-me a forma delicada, reverencial, profundamente espiritual e plena de espírito de comunidade com que celebrou connosco a Eucaristia Contemplativa de sábado à noite, revelando a sua profunda vocação sacerdotal. Guardo este como o momento mais emocionante destes abençoados 3 dias.
Rui Souto
Testemunho de M.J. Salema
Retiro com o Father Laurence Freeman / Fev. 2009
Para começar, a experiência de graça que foi o ter sentido o apelo a ir fazer o retiro.
Se pensarmos no significado da palavra e nos conceitos a que está associada - retirar-se é afastar-se, sair de onde se está, da vida habitual, para partir à escuta de Deus, para se entrar num espaço de interioridade, uma espécie de "deserto" cristão : espaço que dispõe os corações ao acolhimento e escuta da Palavra, onde Deus fala ao coração das pessoas.
O fazer-se uma experiência de vida espiritual mais intensa que pode implicar muitos aspectos : aprofundamento, alargamento/abertura a novos horizontes espirituais, revisão do caminho que fizémos até então, focagem em novas perspectivas de futuro.
Em suma, sempre que paramos, quebramos as rotinas para nos repensarmos e para repensarmos a vida no Espírito a que Deus nos chama em permanência. E nesse sentido o retiro pode ser um Milagre.
2º A riqueza que foi ter vivido uma experiência destas em comunidade : o retiro foi um convite a procurar, ao mesmo tempo, a solidão e a solidariedade. Vivência comunitária a começar pela própria proximidade física de pessoas tão diversas e com experiências de vida tão variadas, no plano da família, da profissão/trabalho, no plano cultural, eclesial.
A partilha das mesmas vivências que nos foram propostas - o ambiente de silêncio, as conferências tão ricas, os tempos de meditação que pontuavam os nossos dias, os tempos livres que nos permitiam entrar mais a fundo em nós próprios, "mastigando" interiormente o que tínhamos ouvido, esclarecendo-o, iluminando-o com as leituras pessoais...
3º O tema do retiro : Santidade - Que sentido hoje? - tão importante para nós, meditantes deste tempo, que procuramos, tantas vezes com dificuldade, levar uma vida meditativa.
Das muitas coisas boas que ouvimos e escutámos, e que sinto que não é fácil traduzir em palavras, queria destacar as duas ou três ideias que mais me marcaram :
a) a santidade, um dos valores essenciais da vida humana, é um processo de crescimento, que completamos quando a santidade de Deus nos preenche completamente; a santidade não é uma recompensa mas um processo profundo de nos tornarmos plenamente humanos.
É algo em que nos tornamos, que nos abre a uma relação mais profunda com Cristo.
b) Deus é a fonte da santidade. Para nos tornarmos totalmente humanos (para Laurence Freeman a palavra totalidade é o equivalente moderno de santidade) temos de ser santos, de mergulhar em Deus, isto é ; deixamos de respirar pelos pulmões do nosso eu para passarmos a respirar pela respiração do Espírito.
Descobrimos então a santidade de Deus que está presente em todas as situações.
A Meditação ajuda-nos a viver a vida com todo o empenhamento
c) A primeira qualidade da santidade que se desenvolve em nós é a liberdade.
À semelhança do que acontece no processo de santidade, na Meditação também escolhemos perder para partir : praticando a radical pobreza de espírito libertamo-nos de todos os apegos;
Um segundo aspecto é o "deixar acontecer" : a Meditação é uma caminhada para Deus que implica uma disciplina espiritual, que é simples na sua forma.
d) Há uma santidade específica para cada idade da vida e para o nosso destino particular.
Aceitar a nosa vocação particular é a santidade, que o mesmo é dizer : a totalidade do ser, a totalidade da vida.
e) Na Meditação praticamos de forma simples e pura o caminho para Deus, a caminhada de que fala John Main, o monge beneditino que fundou a Comunidade Mundial de Meditação Cristã : nesse caminho há um equilíbrio a buscar entre a acção e a contemplação.
A profundidade e a qualidade da nossa oração são a profundidade e a qualidade da nossa vida.
Construiremos assim uma igreja contemplativa.
Maria José Salema
Para começar, a experiência de graça que foi o ter sentido o apelo a ir fazer o retiro.
Se pensarmos no significado da palavra e nos conceitos a que está associada - retirar-se é afastar-se, sair de onde se está, da vida habitual, para partir à escuta de Deus, para se entrar num espaço de interioridade, uma espécie de "deserto" cristão : espaço que dispõe os corações ao acolhimento e escuta da Palavra, onde Deus fala ao coração das pessoas.
O fazer-se uma experiência de vida espiritual mais intensa que pode implicar muitos aspectos : aprofundamento, alargamento/abertura a novos horizontes espirituais, revisão do caminho que fizémos até então, focagem em novas perspectivas de futuro.
Em suma, sempre que paramos, quebramos as rotinas para nos repensarmos e para repensarmos a vida no Espírito a que Deus nos chama em permanência. E nesse sentido o retiro pode ser um Milagre.
2º A riqueza que foi ter vivido uma experiência destas em comunidade : o retiro foi um convite a procurar, ao mesmo tempo, a solidão e a solidariedade. Vivência comunitária a começar pela própria proximidade física de pessoas tão diversas e com experiências de vida tão variadas, no plano da família, da profissão/trabalho, no plano cultural, eclesial.
A partilha das mesmas vivências que nos foram propostas - o ambiente de silêncio, as conferências tão ricas, os tempos de meditação que pontuavam os nossos dias, os tempos livres que nos permitiam entrar mais a fundo em nós próprios, "mastigando" interiormente o que tínhamos ouvido, esclarecendo-o, iluminando-o com as leituras pessoais...
3º O tema do retiro : Santidade - Que sentido hoje? - tão importante para nós, meditantes deste tempo, que procuramos, tantas vezes com dificuldade, levar uma vida meditativa.
Das muitas coisas boas que ouvimos e escutámos, e que sinto que não é fácil traduzir em palavras, queria destacar as duas ou três ideias que mais me marcaram :
a) a santidade, um dos valores essenciais da vida humana, é um processo de crescimento, que completamos quando a santidade de Deus nos preenche completamente; a santidade não é uma recompensa mas um processo profundo de nos tornarmos plenamente humanos.
É algo em que nos tornamos, que nos abre a uma relação mais profunda com Cristo.
b) Deus é a fonte da santidade. Para nos tornarmos totalmente humanos (para Laurence Freeman a palavra totalidade é o equivalente moderno de santidade) temos de ser santos, de mergulhar em Deus, isto é ; deixamos de respirar pelos pulmões do nosso eu para passarmos a respirar pela respiração do Espírito.
Descobrimos então a santidade de Deus que está presente em todas as situações.
A Meditação ajuda-nos a viver a vida com todo o empenhamento
c) A primeira qualidade da santidade que se desenvolve em nós é a liberdade.
À semelhança do que acontece no processo de santidade, na Meditação também escolhemos perder para partir : praticando a radical pobreza de espírito libertamo-nos de todos os apegos;
Um segundo aspecto é o "deixar acontecer" : a Meditação é uma caminhada para Deus que implica uma disciplina espiritual, que é simples na sua forma.
d) Há uma santidade específica para cada idade da vida e para o nosso destino particular.
Aceitar a nosa vocação particular é a santidade, que o mesmo é dizer : a totalidade do ser, a totalidade da vida.
e) Na Meditação praticamos de forma simples e pura o caminho para Deus, a caminhada de que fala John Main, o monge beneditino que fundou a Comunidade Mundial de Meditação Cristã : nesse caminho há um equilíbrio a buscar entre a acção e a contemplação.
A profundidade e a qualidade da nossa oração são a profundidade e a qualidade da nossa vida.
Construiremos assim uma igreja contemplativa.
Maria José Salema
Testemunho de Maria Cristina G. Sousa
“SANTIDADE – QUE SENTIDO HOJE?”
O que é a santidade para nós?
A santidade é única, é feita à medida de cada um, mas também é universal porque vem de Deus.
Poderás ser um Óscar Romero, ou uma dona de casa, ambas as vocações são valorosas. A questão é quem sou eu, é esta a questão que nos guia para a santidade.
O espírito de Cristo é o espírito da liberdade. O processo de santificação é também de libertação (libertarmo-nos dos nossos preconceitos, ideias feitas, medos, dependências, apegos, etc.).
Ser santo é estar imerso na realidade de Deuse alguma parte de nós tem de morrer, é como deixarmos de respirar pelos pulmões do nosso ego e respirarmos pelo sopro do Espírito.
O ego está sempre à procura de aprovação… o meu pai aprova-me?... passados 50 anos ainda nos perguntamos isto… o meu chefe aprova-me?... fiz boa figura?... o ego está sempre nisto…
Mas querer ser eu mesma é só procurar a aprovação de Deus. Cada um de nós é uma expressão única do amor divino.
A santificação é um processo de individuação* e não de conformismo. Ou seja, sermos plenamente nós próprios. E a primeira qualidade que desenvolvemos na meditação é, precisamente, sermos nós próprios, mais livres e mais corajosos para expressar a verdade. Com a meditação há uma descoberta da verdade e um perder as ilusões acerca de nós e de Deus. È um trabalho duro ser humano, ser totalmente humano. Por isso não devemos meditar se não queremos ser plenamente humanos, se não queremos mudar.
A meditação leva-nos para além do ego (leaving self behind, como dizia Jesus), por isso, a meditação faz parte integrante do processo de santidade e é algo que nos acompanha do princípio ao fim da vida.
Ser santo é viver em espaço aberto, sem “attachments”. Temos que nos preparar para deixar partir quando a hora chega… talvez os pobres percebam isso melhor do que os outros. Na meditação escolhemos perder os nossos pensamentos, emoções, sonhos, etc. soltamos tudo isso, let go.
Santidade, em inglês holiness, significa totalidade e cura (wholeness and healing). A palavra actual para santidade (holiness) é totalidade (wholeness).
Um dos nossos erros é fazer da santidade uma questão individualista. Diz Simone Weil “é necessária uma nova forma de santidade para as condições do nosso mundo “.
A nova santidade tem de exprimir uma consciência universal.( A consciência de fazermos parte de um todo, do planeta Terra, da nossa galáxia, do infinito; aquilo que somos, pensamos, fazemos, sonhamos, tem impacto no resto do mundo. Podemos aumentar essa consciência universal, torná-la cada vez mais abrangente. A meditação e a prática do chi-kung e tai-chi ajudam a interiorizá-la – (…) é um comentário meu).
Na meditação não há intenção, só atenção. A meditação é um trabalho de humildade … a humildade conduz-nos directamente ao auto-conhecimento.
Há pessoas muito orgulhosas dos seus conhecimentos e realizações espirituais e há outros praticantes muito humildes e esses é que mudam o mundo.
Começar à procura de qualquer coisa maior… já é o processo de santificação.
Maria Cristina G.S.
O que é a santidade para nós?
A santidade é única, é feita à medida de cada um, mas também é universal porque vem de Deus.
Poderás ser um Óscar Romero, ou uma dona de casa, ambas as vocações são valorosas. A questão é quem sou eu, é esta a questão que nos guia para a santidade.
O espírito de Cristo é o espírito da liberdade. O processo de santificação é também de libertação (libertarmo-nos dos nossos preconceitos, ideias feitas, medos, dependências, apegos, etc.).
Ser santo é estar imerso na realidade de Deuse alguma parte de nós tem de morrer, é como deixarmos de respirar pelos pulmões do nosso ego e respirarmos pelo sopro do Espírito.
O ego está sempre à procura de aprovação… o meu pai aprova-me?... passados 50 anos ainda nos perguntamos isto… o meu chefe aprova-me?... fiz boa figura?... o ego está sempre nisto…
Mas querer ser eu mesma é só procurar a aprovação de Deus. Cada um de nós é uma expressão única do amor divino.
A santificação é um processo de individuação* e não de conformismo. Ou seja, sermos plenamente nós próprios. E a primeira qualidade que desenvolvemos na meditação é, precisamente, sermos nós próprios, mais livres e mais corajosos para expressar a verdade. Com a meditação há uma descoberta da verdade e um perder as ilusões acerca de nós e de Deus. È um trabalho duro ser humano, ser totalmente humano. Por isso não devemos meditar se não queremos ser plenamente humanos, se não queremos mudar.
A meditação leva-nos para além do ego (leaving self behind, como dizia Jesus), por isso, a meditação faz parte integrante do processo de santidade e é algo que nos acompanha do princípio ao fim da vida.
Ser santo é viver em espaço aberto, sem “attachments”. Temos que nos preparar para deixar partir quando a hora chega… talvez os pobres percebam isso melhor do que os outros. Na meditação escolhemos perder os nossos pensamentos, emoções, sonhos, etc. soltamos tudo isso, let go.
Santidade, em inglês holiness, significa totalidade e cura (wholeness and healing). A palavra actual para santidade (holiness) é totalidade (wholeness).
Um dos nossos erros é fazer da santidade uma questão individualista. Diz Simone Weil “é necessária uma nova forma de santidade para as condições do nosso mundo “.
A nova santidade tem de exprimir uma consciência universal.( A consciência de fazermos parte de um todo, do planeta Terra, da nossa galáxia, do infinito; aquilo que somos, pensamos, fazemos, sonhamos, tem impacto no resto do mundo. Podemos aumentar essa consciência universal, torná-la cada vez mais abrangente. A meditação e a prática do chi-kung e tai-chi ajudam a interiorizá-la – (…) é um comentário meu).
Na meditação não há intenção, só atenção. A meditação é um trabalho de humildade … a humildade conduz-nos directamente ao auto-conhecimento.
Há pessoas muito orgulhosas dos seus conhecimentos e realizações espirituais e há outros praticantes muito humildes e esses é que mudam o mundo.
Começar à procura de qualquer coisa maior… já é o processo de santificação.
Maria Cristina G.S.
Testemunho de Helena Lopes Dias
Venho aqui partilhar convosco as minhas reflexões sobre a Vida, experiências e contribuições dadas pelo Retiro de Silêncio orientado pelo padre Lawrence Freeman no qual tive a honra de participar.
Depois de dar graças à vida pela oportunidade que me ofereceu, gostaria, sem vos maçar muito, de começar por compartilhar convosco um pouco do contexto autobiográfico deste momento, essencial à compreensão daquilo que vos quero transmitir.
Filha de pais, avós e bisavós católicos - para trás há algumas dúvidas - educada católicamente, aos 18 anos abandonei a igreja.
Sofria à época do sintoma do adolescente, no início da experiência amorosa, vítima de uma educação religiosa restrita e constritiva. À boa maneira que só a incompreensão permite, deram–me então a escolher: ou perder a ligação com a minha Igreja e inclusivamente com Deus, sua propriedade exclusiva ou perder a ligação amorosa que, diga-se de passagem, sempre foi para mim muito mais do que carnal e que à época, observo hoje, era a expressão mais bela, mais alta e mais real da experiência do Divino em mim.
Assim o fogo da vida venceu e presa de uma sensação de santidade psicobiológica abandonei a Santa Sé.
Nunca deixei por isso de ser religiosa, se considerarem Religião aquela relação-ligação que se expressa como imperativa necessidade anímica, uma necessidade de alimento, como a de pão para a boca, na procura de um encontro com uma Realidade mais alta e mais profunda, uma razão necessáriamente Universal, Primordial, Original.
Continuei sempre a chamar-lhe Deus.
Levou-me esta situação a estudar diferentes tradições, na esperança de encontrar filosofia ou religião conforme à verdade do meu sentir, sempre no meu coração presente o desejo e a alegria de fazer o Bem. Convicta de que o mal não existe em si, e só nasce da ignorância e da errância daquele que o pratica, habituei-me a preferir a palavra pegado a pecado, e a tomá-lo no sentido de impedimento á ascenção, uma espécie de lastro que não nos deixa subir.
Posso dizer que a minha vida se orientou na procura da Verdade e que, antes de saber que ela era Amor, havia em mim uma sensação de abandono, uma falta, uma ferida, uma separação, uma espécie de abismo intransponível. A única coisa que compreendia era que havia qualquer coisa de errado no modo como eu pensava Deus, esquecida de que a imagem de Deus não é Deus e que a ideia de Deus só pode ser a ideia que Deus tem, como dizia nosso saudoso filósofo Sampaio Bruno.
Colocados perante este paradoxo de a nossa dor de conhecer ser Dele, só ter alívio Nele, só Ele se conhecendo a Ele, só Ele d’Ele participando, se nos pensamos distintos e nos imaginamos outra coisa que não Ele, separados, possui-nos uma Saudade até às lágrimas.
A pergunta é:
Como participar continuamente dessa consciência unívoca ?
É aqui que para mim faz sentido a prática da meditação, bem haja ao padre Lawrence Freeman que nos ensinou e nos lembrou que o seu objectivo é fazer-nos voltar à fonte do Amor, encontrá-la em nós, para que Amor possa ser Real e, na dádiva que só o excesso permite, possa ser compartilhado com toda a humanidade. Ir ao fundo do coração onde o amor emerge buscar a sua origem, deixar que nesta busca de si Ele nos leve adiante, no caminho santo se aumentando, à medida que fazendo jus aos nossos antepassados marinheiros, nós nos vamos autodescobrindo.
Lembremos S. Tomé: não chega pensá-lo ou falá-lo, é preciso prová-lo.
Meditar é fixar a mente num objecto ou na ausência dele, neste caso uma palavra, um som, ancorar o ego nessa tarefa de forma a atingir um estado estável de serenidade interior, de observação possível, criando as condições para que progressivamente se instale em nós o estado agraciado de poder Contemplar:
Templo Sagrado em tudo. O Lugar.
E foi tal o privilégio de privar com o padre Freeman: um homem livre como a si se nomeia!
Observar um homem integrado ou íntegro como prefiram dizer, um homem numa peça só! Coisa difícil nesta época de partidos e partidas.
Ver o pensamento agir directamente no mundo, sem entraves, fluindo sem obstrução a emoção correcta e a acção espontânea correspondente.
Sua inteligência ágil, rápida, cheia de humor!
O seu ser experienciando-se a partir do coraçâo numa dádiva constante de si, ao mesmo tempo rigoroso e misericordioso na serenidade do que é uma alma desperta, ciente do seu destino.
Foi assim com verdadeira simplicidade e mestria que por irradiação directa do seu estado, nos introduziu no silêncio de cada um de nós, onde Deus se escuta, em taça de argila onde se abriga, na proporção que a qualidade dela lhe permite.
Assim, o que um dia dei, ou melhor, aquilo que Deus deu através de mim, voltou em dobro, e o destino, rodas bem engrenadas trouxe-me pela mão da Maria Amélia (a quem agradeço do coração) até vós, uma comunidade que já foi a minha comunidade onde hoje creio ter encontrado, um lugar onde a experiência mística é valorizada, onde é reconhecida a Santidade do caminho da procura de Si.
Uma espécie de alegria salvífica apodera-se de mim, sinto-me respirar numa comunidade aberta, sem portas nem janelas, que se pretende universal, individual no seu modo de orar, dialogante a partir do silêncio com todas as formas que louvam o Mesmo, o Ùnico aquele pelo qual somos e que nos faz Ser.
Dêmos graças a Deus.
Muito obrigado.
Maria Helena Lopes Dias
Depois de dar graças à vida pela oportunidade que me ofereceu, gostaria, sem vos maçar muito, de começar por compartilhar convosco um pouco do contexto autobiográfico deste momento, essencial à compreensão daquilo que vos quero transmitir.
Filha de pais, avós e bisavós católicos - para trás há algumas dúvidas - educada católicamente, aos 18 anos abandonei a igreja.
Sofria à época do sintoma do adolescente, no início da experiência amorosa, vítima de uma educação religiosa restrita e constritiva. À boa maneira que só a incompreensão permite, deram–me então a escolher: ou perder a ligação com a minha Igreja e inclusivamente com Deus, sua propriedade exclusiva ou perder a ligação amorosa que, diga-se de passagem, sempre foi para mim muito mais do que carnal e que à época, observo hoje, era a expressão mais bela, mais alta e mais real da experiência do Divino em mim.
Assim o fogo da vida venceu e presa de uma sensação de santidade psicobiológica abandonei a Santa Sé.
Nunca deixei por isso de ser religiosa, se considerarem Religião aquela relação-ligação que se expressa como imperativa necessidade anímica, uma necessidade de alimento, como a de pão para a boca, na procura de um encontro com uma Realidade mais alta e mais profunda, uma razão necessáriamente Universal, Primordial, Original.
Continuei sempre a chamar-lhe Deus.
Levou-me esta situação a estudar diferentes tradições, na esperança de encontrar filosofia ou religião conforme à verdade do meu sentir, sempre no meu coração presente o desejo e a alegria de fazer o Bem. Convicta de que o mal não existe em si, e só nasce da ignorância e da errância daquele que o pratica, habituei-me a preferir a palavra pegado a pecado, e a tomá-lo no sentido de impedimento á ascenção, uma espécie de lastro que não nos deixa subir.
Posso dizer que a minha vida se orientou na procura da Verdade e que, antes de saber que ela era Amor, havia em mim uma sensação de abandono, uma falta, uma ferida, uma separação, uma espécie de abismo intransponível. A única coisa que compreendia era que havia qualquer coisa de errado no modo como eu pensava Deus, esquecida de que a imagem de Deus não é Deus e que a ideia de Deus só pode ser a ideia que Deus tem, como dizia nosso saudoso filósofo Sampaio Bruno.
Colocados perante este paradoxo de a nossa dor de conhecer ser Dele, só ter alívio Nele, só Ele se conhecendo a Ele, só Ele d’Ele participando, se nos pensamos distintos e nos imaginamos outra coisa que não Ele, separados, possui-nos uma Saudade até às lágrimas.
A pergunta é:
Como participar continuamente dessa consciência unívoca ?
É aqui que para mim faz sentido a prática da meditação, bem haja ao padre Lawrence Freeman que nos ensinou e nos lembrou que o seu objectivo é fazer-nos voltar à fonte do Amor, encontrá-la em nós, para que Amor possa ser Real e, na dádiva que só o excesso permite, possa ser compartilhado com toda a humanidade. Ir ao fundo do coração onde o amor emerge buscar a sua origem, deixar que nesta busca de si Ele nos leve adiante, no caminho santo se aumentando, à medida que fazendo jus aos nossos antepassados marinheiros, nós nos vamos autodescobrindo.
Lembremos S. Tomé: não chega pensá-lo ou falá-lo, é preciso prová-lo.
Meditar é fixar a mente num objecto ou na ausência dele, neste caso uma palavra, um som, ancorar o ego nessa tarefa de forma a atingir um estado estável de serenidade interior, de observação possível, criando as condições para que progressivamente se instale em nós o estado agraciado de poder Contemplar:
Templo Sagrado em tudo. O Lugar.
E foi tal o privilégio de privar com o padre Freeman: um homem livre como a si se nomeia!
Observar um homem integrado ou íntegro como prefiram dizer, um homem numa peça só! Coisa difícil nesta época de partidos e partidas.
Ver o pensamento agir directamente no mundo, sem entraves, fluindo sem obstrução a emoção correcta e a acção espontânea correspondente.
Sua inteligência ágil, rápida, cheia de humor!
O seu ser experienciando-se a partir do coraçâo numa dádiva constante de si, ao mesmo tempo rigoroso e misericordioso na serenidade do que é uma alma desperta, ciente do seu destino.
Foi assim com verdadeira simplicidade e mestria que por irradiação directa do seu estado, nos introduziu no silêncio de cada um de nós, onde Deus se escuta, em taça de argila onde se abriga, na proporção que a qualidade dela lhe permite.
Assim, o que um dia dei, ou melhor, aquilo que Deus deu através de mim, voltou em dobro, e o destino, rodas bem engrenadas trouxe-me pela mão da Maria Amélia (a quem agradeço do coração) até vós, uma comunidade que já foi a minha comunidade onde hoje creio ter encontrado, um lugar onde a experiência mística é valorizada, onde é reconhecida a Santidade do caminho da procura de Si.
Uma espécie de alegria salvífica apodera-se de mim, sinto-me respirar numa comunidade aberta, sem portas nem janelas, que se pretende universal, individual no seu modo de orar, dialogante a partir do silêncio com todas as formas que louvam o Mesmo, o Ùnico aquele pelo qual somos e que nos faz Ser.
Dêmos graças a Deus.
Muito obrigado.
Maria Helena Lopes Dias